“De pai para filho”, pescadores de Ubatuba/SP seguem contribuindo na pesquisa sobre as tartarugas marinhas.

30/07/2025 - Dados de capturas na pesca tradicional com cercos flutuantes ajudam a monitorar a população de tartarugas verdes. ↓

Canoas visitando o cerco flutuante para a despesca, na Praia do Camburi, em Ubatuba.

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Mais uma temporada de pesca com cercos flutuantes se encerra na Praia do Camburi, em Ubatuba/SP. Desde 1994, a Fundação Projeto Tamar registra as capturas de tartarugas e o esforço de pesca dos cercos flutuantes em Ubatuba, para acompanhar as variações a longo prazo nos parâmetros demográficos da população de juvenis de tartarugas-verdes , na região.

O cerco flutuante é uma arte de pesca introduzida há um século no Brasil, por imigrantes japoneses, no município de Ilhabela/SP. De lá, se espalhou por todo litoral norte de SP e Sul fluminense. Consiste em uma armadilha de redes, fixada próxima aos costões rochosos com âncoras e suspensa na coluna d´água por flutuadores. Grandes cardumes de peixes entram na armadilha e não encontram a saída, permanecendo vivos até a hora da “despesca”, que acontece duas a três vezes por dia. Os peixes de interesse comercial e de subsistência são embarcados nas canoas e o restante liberado vivo ao mar! 

“Despesca” do cerco com a participação de biólogo da equipe da Fundação Projeto Tamar
 

A Fundação Projeto Tamar iniciou o monitoramento das redes de cerco flutuante, na praia de Camburi, em 1998. Na época, o bairro ainda não contava com energia elétrica, nem telefonia. Um rádio VHS instalado pela Fundação era usado para comunicar as capturas incidentais de tartarugas nas redes além de transmitir recados diversos de interesse da comunidade. Dois cercos flutuantes atuavam nesta praia, sob a orientação de saudosos mestres caiçaras, um deles sob comando do senhor José Lucio, o “Zé do coco”, e outro sob o comando do “Seo Inglês”, que na época, já com idade avançada, não pescava, mas orientava à distância sua equipe, sentado num banquinho na praia!

Saudoso pescador “Seo Inglês”, na soltura de uma tartaruga verde capturada no cerco flutuante
 

Desde então, mais de 3000 juvenis de tartarugas verdes capturados nos cercos da Praia do Camburi foram registrados e devolvidos ao mar!
Considerando o número de capturas e a quantidade de dias de pesca dos cercos, o Projeto Tamar publicou um artigo em 2017 mostrando que o número de animais capturados por dia apresentou uma tendência de aumento, ao longo dos anos, de uma tartaruga capturada a cada 5 dias, em 1994, até pouco mais de uma tartaruga por dia em 2014. Sem mudanças nas dimensões, na localização e nem na operação dos cercos, o aumento provavelmente está relacionado a maior quantidade de tartarugas presentes na região!
Atualmente, quem segue atuando na pesca do cerco flutuante no Camburi são André e Fabinho, filhos de Seo Inglês, que além de preservar a cultura da pesca de cercos, mantém a relação de parceria com a Fundação Projeto Tamar! Neste mês de julho, mais uma temporada de pesca se encerrou, sendo registradas 128 capturas de tartarugas entre outubro/2024 e julho/2025, resultando numa média de 1,2 tartarugas por dia de pesca!

Fabinho, filho de “Seo Inglês”, dando continuidade a parceria com a Fundação Projeto Tamar
 

Em 2022 a tartaruga verde deixou de ser considerada ameaçada de extinção, passando para a categoria quase ameaçada (NT – Near Threatned) na lista oficial brasileira, do Ministério do Meio Ambiente. Mantém-se, entretanto, a necessidade de ações de conservação para que esta espécie não volte para a lista de animais ameaçados! 

O incentivo a pescarias como os cercos flutuantes, possibilitam a continuidade da prática de pesca artesanal, com mínimo impacto para as populações de tartarugas marinhas! 

Pescadores do cerco e equipe da Fundação Projeto Tamar em mais uma soltura de tartaruga verde